quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Descida ao Abismo Anhumas!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis (…)” - Fernando Pessoa

Bonito - Mato Grosso do Sul - Brasil, 4 de setembro de 2015,

Uma pequena fenda é o portal de entrada no submundo do Abismo Anhumas. Este local foi descoberto por acaso na década de 70 aquando de um incêndio na mata.
Uma vez no seu interior, a luz deu lugar à escuridão. Quase não existe vida no seu interior.
São 72 os metros que separam a fenda do deck flutuante de madeira que se encontra no magnífico lago (com a largura de um campo de futebol) que está no seu interior e cuja profundidade atinge os 80 metros. A sua água verde-esmeralda parece dar alguma vida a um lugar inóspito, sombrio e frio. 
A descida foi feita em Rappel. Os momentos que a antecederam foram de ansiedade. O semblante carregado nos rostos, não deixou disfarçar a apreensão em cada um dos 16 corajosos - máximo permitido por dia por questões de segurança e proteção ambiental - que decidiram aceitar este desafio de descer ao Abismo.

Descida para o Abismo Anhumas
Um dos instrutores chama o meu nome. Poucos minutos faltavam para estar a 72 metros de altura, suspenso numa corda a que confio toda a minha sorte. Passados alguns metros do início da descida, uma paz interior toma conta de mim e começo finalmente a desfrutar de toda a envolvente.
A aventura, para ser mais preciso, tinha tido o seu início no dia anterior. Um treino básico, e em poucos minutos, mesmo para um leigo como eu, aprendem-se técnicas básicas de Rappel que irão ser de enorme importância para que a visita se realize com a máxima segurança.
Em pouco mais de 5 minutos estava no fundo do ABISMO! WOW! 

Detalhes do interior da caverna
Um silêncio ensurdecedor paira no ar. Não se ouve vivalma. É hora de respirar fundo e contemplar! Chega a apetecer dizer uns palavrões para celebrar a magnitude e imponência do local. Inevitável e inconscientemente penso na pequenez do Ser Humano diante de um local tão arrebatador. Por breves instantes, e como isso é raro, esqueço a máquina fotográfica.
A tonalidade verde-esmeralda da água e os milenares cones de calcário, que atingem os 20m de altura, impávidos e serenos, como que esquecidos pelo tempo e que emergem no fundo do lago, não me deixam indiferente. Que visão! Nos meses de verão os raios de sol trespassam a água cristalina e devolvem reflexos de brilho, bem como permitem vislumbrar nitidamente o interior do lago até uma profundidade de aproximadamente 60m.

Deck flutuante no interior da caverna
Ali mesmo ao lado, na extremidade da caverna, fito a carcaça de um animal que ali pereceu. Não raras vezes, alguns animais infortunados ali caem, encontrando assim o seu triste fim. 
Que cenário! Impossível não pensar em Júlio Verne e na sua “Viagem ao Centro da Terra”, obra literária que vive no imaginário de muitos de nós.

As formações rochosas que emergem do fundo do lago
Vou ao encontro das gélidas águas do Abismo (18º C, média). Nas águas do lago, tenho o desejo secreto que os ponteiros do relógio parem por breves instantes. Observo tudo o que a minha vista alcança até ao mais ínfimo pormenor. Espero que a memória visual jamais me traia e que eu nunca esqueça este momento sublime de pura contemplação. Os cones no fundo do lago reluzem a cada foco de luz que recebem das lanternas. É um jogo de luz e sombras único. Não há fotografia que faça jus à beleza que se revela ante mim. E os trinta minutos de mergulho esfumaçam-se num ápice. 
Diz o adágio que “o que é bom acaba depressa”, ainda que não tenhamos pressa. É hora de regressar. Mais uma vez em Rappel. Desta feita, o regresso à superfície é feito em cerca de 25 minutos. Neste percurso, tomo consciência que a enorme galeria do Abismo Anhumas tem agora um significado diferente. Como a subida é bem mais morosa, é possível saborear todos os detalhes esculpidos nas paredes da caverna pela natureza. É entre estalactites e estalagmites que se faz esta viagem, onde facilmente o nosso cérebro vislumbra formas e figuras abstratas a fazer lembrar o rosto de um idoso ou a figura de algum animal.
Já na superfície, tenho a sensação de ter estado num mundo paralelo e atípico para o comum dos mortais, como se de uma distorção da realidade se tratasse ou do acordar de um sonho. O meu único lamento nesta inesquecível aventura é apenas fotográfico...ser proíbido o uso do tripé.

Aspeto da subida à superficie, vista do exterior
E lembrar-me que tudo começa numa pequena fenda (…) 
Não poderia concluir a partilha desta aventura sem deixar aqui inscrito o meu agradecimento à extraordinária equipa de profissionais que nos acompanhou e que já são parte integrante do Abismo Anhumas. O seu elevado nível de profissionalismo e simpatia são fundamentais para transmitir confiança e serenidade, nomeadamente nas horas de maior ansiedade, a quem ousa descer ao Abismo.
Já no autocarro de volta para o hotel, tenho o estranho sentimento que tudo voltou ao normal. Coloquei os headphones e segui ouvindo o “Extinct” dos Moonspell.

1 comentário:

  1. Grande Nuno Luís! Deve ter sido uma aventura fantástica amigo. Abraço

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