sexta-feira, 13 de março de 2015

MC, Puto D, Jaguncinas e...Zeca Pagodinho

“Quem tem telhado de vidro, não atira pedras no do vizinho”

Ainda eu estava longe de imaginar que, por motivos profissionais, o Brasil iria um dia cruzar o meu caminho, nesta estrada longa que é a vida, e muito eu gozava com o meu amigo MC por ouvir um tal de «Zeca Pagodinho». Como a culpa nunca morre solteira, eu tinha um cúmplice neste «crime», o grande puto D, mais conhecido na margem sul como General D. Já  que toco neste assunto sensível para esse meu amigo, o tal de MC, no seu cardápio de música brasileira também se incluíam outras grandes bandas brasileiras como «Chitãozinho e Xororó» e um tal de «MC Bola».

Antes de prosseguir, um breve parêntesis para esclarecer que em Portugal «gozar» é «sacanear» e «puto» é equivalente a «garoto» no Brasil. Esta simples explicação tinha de ser feita para não gerar mal entendidos.

Da música brasileira e, tirando os, para mim deuses do thrash metal, «Sepultura», o meu conhecimento era quase nulo. Umas quantas idas «na balada» (sinónimo de discoteca no Brasil) e a alguns bares, rapidamente fizeram expandir o meu conhecimento de música brasileira. Músicas de nomes como «Tim Maia», «Jorge Ben Jor» ou «Raúl Seixas», passaram a ser comuns para mim e, até já sei o que significa a sigla «M.P.B.»! Vou ser amigo e descodificar para quem não conhece: «Música Popular Brasileira». 

Ao contrário do que acontece no país que um dia viu nascer Luís Vaz de Camões, em que a música produzida por lá não é levada muito a sério, sendo preterida essencialmente em favor da música anglo-saxónica, aqui a música local é bastante valorizada e ouvida, sendo motivo de orgulho nacional.
Com a galera do Perfil do Samba e com as jaguncinas Miri e Alê
Um dos locais que frequento é um bar de nome «Zé Menino» que fica localizado no popular bairro da Vila Madalena, São Paulo. Num outro artigo falarei sobre este boémio bairro paulista. Aos domingos é comum, os agora meus amigos, «Perfil do Samba» tocarem nesse bar. Esta banda é constituída por 5 amigos que anima as tardes no bar que atrás referi e que tem na interpretação de temas de pagode o seu ponto forte. «Pagode» é um género musical que é classificado como um estilo de samba. Tenho de confessar que não consigo distinguir a diferença entre o pagode e o samba, para mim a sonoridade parece a mesma.

Com o passar do tempo, e á medida que ia ganhando confiança com a «galera» do «Perfil do Samba», pedir para tocarem a música «Amiga da minha mulher», do aqui famoso «Seu Jorge», era algo habitual. A partir de determinada altura, o Haroldo, vocalista da banda, olhava para mim e dizia: “Nuno, esta é para você!” e é ao ritmo dessa música que as jaguncinas Miri e Alê abanam o esqueleto.


Num já longínquo domingo e com as saudades da família e amigos a apertar, pedi para que tocassem uma música de nome «Maneiras» de um tal de… «Zeca Pagodinho»! Por tantas vezes a ouvir, sabia que era a música preferida do meu amigo e enquanto a música era tocada, gravei um vídeo e enviei para Portugal, para o MC. Nem 5 segundos tinham passado e já tinha recebido umas 10 mensagens via WhatsApp a ridicularizar o facto de afinal eu também gostar de uma música que vezes sem conta usei como arma de arremesso contra o meu amigo :)
…e não é que gosto mesmo dessa música?! Caso para dizer: “pela boca morre o peixe!”

segunda-feira, 9 de março de 2015

Búzios e Arraial do Cabo

«Tic-tac, tic-tac», o relógio não pára e ao seu ritmo bucólico vai avançando segundo a segundo e indiferente a toda e qualquer reacção. Afinal é ele que controla o nosso tempo. Os seus ponteiros aproximam-se vertiginosamente da hora marcada. A ansiedade a cada segundo que vai passando apodera-se de mim e já não tenho como a disfarçar. É meia-noite, hora de partir!
Faltavam poucas horas para conhecer Búzios, uma estância balnear localizada no estado do Rio de Janeiro e que um dia ficou mundialmente famosa, quando a então diva da época, Brigitte Bardot, ali decidiu passar umas férias. No local, onde ela costumava contemplar o ocaso do astro rei, foi edificada uma estátua em sua homenagem.

Búzios
Cinco horas após ter deixado São Paulo, e já com o sol a espreitar na linha do horizonte, entro na cidade maravilhosa e, quando me preparo para passar na ponte de Niterói, avisto ao longe o símbolo desta cidade, o Cristo Redentor, envolto em neblina que conferia um ar místico digno de um cenário de conto de fadas a este símbolo da cidade.
A vista sobre a cidade do Rio de Janeiro ao atravessar esta ponte é deslumbrante e de cortar a respiração. Toda a orla marítima da cidade maravilhosa fica diante dos nossos olhos, um festim visual. A vontade de largar o carro em qualquer lado, congelar aquele  instante, e poder ignorar tudo o que nos rodeia por breves minutos apenas, suster a respiração e contemplar esta obra-prima com que a mãe natureza nos privilegiou.
Com o Rio de Janeiro cada vez mais longe era hora de finalmente chegar a Búzios, que em nada defraudou as minhas expectativas, ainda que me tenha feito lembrar o Algarve em época alta, tal a quantidade de pessoas que aproveitam as férias para ali se irem banhar. A quantidade de argentinos nesta estância balnear também captou a minha atenção, fazendo-me pensar que talvez estivessem ali mais argentinos do que brasileiros, tal a fama que este local tem no país do Tango.
Búzios e Arraial do Cabo
Para minha grande desilusão a água nas praias de Búzios não é tão quente como eu imaginava e por momentos pensei que tava a banhos em Portugal, tal era temperatura da água. Para o último dia estava reservado um passeio de barco ao local que mais me deslumbrou. A cerca de 1h30 de Búzios, fica localizada outra estância balnear igualmente famosa no estado do Rio: Arraial do Cabo!
Como o nome indica, Arraial do Cabo é um pedaço de terra que entra mar a dentro e que apesar de possuir praias pequenas e localizadas na sua maioria, em pequenas enseadas, a verdade é que aqui se encontram algumas das praias mais bonitas do mundo.
Arraial do Cabo
Um passeio de barco de cerca de 3h30m foi a forma que encontrei de me deliciar e banhar em algumas dessas praias. E aqui sim, deparei-me com um cenário de praias de areia branca e água quente. Sem querer colocar em causa a beleza de Búzios, até porque como tudo na vida o que conta é o momento em que as coisas são vividas, Arraial do Cabo foi o local que mais me fascinou pela sua beleza natural.
E uma semana depois, era tempo de voltar a São Paulo (…)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Keep calm and vamos botecar!


“-Boa tarde, o que deseja?
-Traga uma Original, 3 copos e um filé aperitivo de frango com mandioca frita, e por favor não esqueça a pimenta.”
Este é o típico diálogo mantido entre um empregado de mesa e um habitual frequentador dos famosos «Botecos», espalhados um pouco por toda a cidade e por todo o país. A «Original» é uma das cervejas mais bebidas em São Paulo, e pedir “pimenta” por estas paragens é como pedir picante em Portugal.


O aspecto exterior de um Boteco
Na segunda ida ao mesmo Boteco, não deixa de ser interessante ver a afinidade que se cria com os empregados, que na maioria das vezes acabam por fixar o nome dos clientes, bem como a comida e bebida preferida.
Além do ambiente muito agradável, os Botecos, na sua maior, primam-nos com esplanadas, o que permite «apanhar um sol» e apreciar a paisagem envolvente, ainda que na maioria das vezes, em São Paulo, a contemplação paisagística seja apenas observar infindáveis filas de trânsito, enquanto estamos neste eloquente processo de degustação.

Muitas dos habituais frequentadores dos Botecos, incluindo este que vos escreve, são apelidados de botequeiros e não sabem o que significa a palavra e a sua origem. Investigando um pouco, e com a ajuda do amigo Google, rapidamente percebi que a palavra é uma abreviatura de Botequim, que por sua vez teve origem na palavra Botica.
A famosa cerveja Original


Se nos primórdios da sua existência o Boteco era essencialmente frequentado por pessoas de classes socias mais baixas, com o passar dos anos e com o aparecimento de Botecos mais «sofisticados», passou a ser «in» frequentar esta variante de bar.

A analogia que pode encontrar paralelo em Portugal são as famosas tabernas, muito associadas ao copo de três, ou ao bagacinho pela manhã e a frequentadores com poucos recursos monetários. Mas os tempos mudam e hoje qualquer restaurante em Lisboa que o nome comece por taberna terá o seu futuro garantido, pelo menos durante um bom par de meses, pois é chique! E em vez das bebidas atrás referidas, iremos encontrar o gin, muito em voga na sociedade lisboeta ou uma carta de vinhos conceituados.

Voltando ao Brasil e aos Botecos, creio que estes estão para o povo brasileiro como os Pubs para os ingleses. É um local de confraternização e entretenimento e como as «happy hours» aqui em São Paulo são muito frequentes, nada melhor do que reunir com os amigos ou colegas de trabalho, beber uma cerveja e pedir uma «porção», entenda-se dose, de «frango à passarinho», «bolo de bacalhau» ou até o já referido «filé aperitivo de frango».

E para finalizar uma curiosidade de botequeiro: Sabem o que significa, a expressão “vamos tomar a saideira”? Para quem não sabe, é como dizer, “bebemos mais uma para a viagem”.