quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Campos do Jordão: o aroma da Europa

Os últimos km´s que me separam da cidade lembram-me, precisamente os derradeiros momentos que antecedem a chegada à “minha” Terra dos Sonhos, Vide, aquele cantinho à beira rio na majestosa Serra da Estrela. Curvas e contracurvas que se estendem num percurso que parece não ter fim. Quando já estou preparado para mais uma sequência, deparo-me com uma enorme reta, no meio de um pequeno vale verdejante. Ao fundo, vislumbro duas casas de design alpino onde se pode ler em letras garrafais: “Campos do Jordão”. As boas vindas estão dadas. Rezam as crónicas, que acabo de entrar na cidade mais europeia do Brasil. Será verdade? Terei todo um fim de semana para conferir a veracidade desta fama, aparentemente, almejada por Campos do Jordão.


Daqui para a frente, a estrada leva-me numa autêntica viagem aos países da Europa Central. A arquitetura das casas não engana, e sente-se no ar toda a influência alpina das mesmas. Como estratégia de marketing, Campos do Jordão é chamada de “Suíça Brasileira”, para atrair turistas, principalmente nos meses de inverno. O pós II Grande Guerra, trouxe à cidade uma mistura arquitetónica variada – Enxaimel, Chalés Suíços, Estilo Normando – e que se intensificou na década de 80 do século XX. 
Apenas fica a faltar a neve, que muito raramente caí - mesmo nos invernos mais rigorosos - neste muito procurado destino de inverno, sobretudo pelos habitantes da grande São Paulo. Campos do Jordão, dista a pouco mais de 2 horas de carro da capital do estado de São Paulo e encontra-se a cerca de 1700 metros acima do nível do mar, sendo que a temperatura média anual por aqui, é mais baixa que a média das demais cidades brasileiras.


Os transeuntes que enchem as pequenas ruas do centro da cidade, trajam roupas de inverno e mostram estar preparados para um frio glaciar. Os gorros, as luvas, os cachecóis e os casacos quentes, são parte integrante da indumentária de quem visita Campos do Jordão. Dizem que o frio é psicológico e eu vou ter de concordar, uma vez que ao contrário dos demais, eu tinha apenas uma t-shirt vestida e mesmo assim sentia calor (…)
Temperatura à parte é impossível ficar indiferente ao ambiente e energia positiva que a cidade emana. Num raro momento de nostalgia, a minha imaginação transportou-me para a pitoresca vila de Zermatt, na Suíça, onde habita o icónico Matterhorn, a mais de 10.000 km de distância.


Na hora de aconchegar o estômago, Campos do Jordão não deixa créditos em mãos alheias. A gastronomia é muito variada. Desde a deliciosa e diversificada comida brasileira, até outras iguarias inspiradas na cozinha europeia, como são exemplos, o fondue ou a raclette. As influências europeias continuam e em Outubro a cidade recebe a versão brasileira do Oktoberfest, o famoso festival de cerveja que tem lugar na Baviera alemã, mais concretamente em Munique. Curiosamente, e já que aqui se falou de cerveja, é em Campos do Jordão que é produzida uma das cervejas artesanais mais famosas no Brasil, a Baden Baden, que por sinal é bem agradável de saborear. Beber apenas uma, sabe a pouco (…)


Passeios a cavalo, de comboio, visitas a miradouros com paisagens de cortar a respiração ou um passeio de teleférico, são também outros programas que se podem encontrar na cidade, assim o visitante tenha tempo para se deliciar com todos estes encantos que Campos do Jordão proporciona.
Por todos os motivos acima indicados, este destino de Inverno para grande maioria dos paulistas, merece mais do que uma visita apenas de fim de semana. As atrações são muitas e para se desfrutar de tudo o que a cidade e área envolvente tem para oferecer, dois dias sabem a pouco.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Descida ao Abismo Anhumas!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis (…)” - Fernando Pessoa

Bonito - Mato Grosso do Sul - Brasil, 4 de setembro de 2015,

Uma pequena fenda é o portal de entrada no submundo do Abismo Anhumas. Este local foi descoberto por acaso na década de 70 aquando de um incêndio na mata.
Uma vez no seu interior, a luz deu lugar à escuridão. Quase não existe vida no seu interior.
São 72 os metros que separam a fenda do deck flutuante de madeira que se encontra no magnífico lago (com a largura de um campo de futebol) que está no seu interior e cuja profundidade atinge os 80 metros. A sua água verde-esmeralda parece dar alguma vida a um lugar inóspito, sombrio e frio. 
A descida foi feita em Rappel. Os momentos que a antecederam foram de ansiedade. O semblante carregado nos rostos, não deixou disfarçar a apreensão em cada um dos 16 corajosos - máximo permitido por dia por questões de segurança e proteção ambiental - que decidiram aceitar este desafio de descer ao Abismo.

Descida para o Abismo Anhumas
Um dos instrutores chama o meu nome. Poucos minutos faltavam para estar a 72 metros de altura, suspenso numa corda a que confio toda a minha sorte. Passados alguns metros do início da descida, uma paz interior toma conta de mim e começo finalmente a desfrutar de toda a envolvente.
A aventura, para ser mais preciso, tinha tido o seu início no dia anterior. Um treino básico, e em poucos minutos, mesmo para um leigo como eu, aprendem-se técnicas básicas de Rappel que irão ser de enorme importância para que a visita se realize com a máxima segurança.
Em pouco mais de 5 minutos estava no fundo do ABISMO! WOW! 

Detalhes do interior da caverna
Um silêncio ensurdecedor paira no ar. Não se ouve vivalma. É hora de respirar fundo e contemplar! Chega a apetecer dizer uns palavrões para celebrar a magnitude e imponência do local. Inevitável e inconscientemente penso na pequenez do Ser Humano diante de um local tão arrebatador. Por breves instantes, e como isso é raro, esqueço a máquina fotográfica.
A tonalidade verde-esmeralda da água e os milenares cones de calcário, que atingem os 20m de altura, impávidos e serenos, como que esquecidos pelo tempo e que emergem no fundo do lago, não me deixam indiferente. Que visão! Nos meses de verão os raios de sol trespassam a água cristalina e devolvem reflexos de brilho, bem como permitem vislumbrar nitidamente o interior do lago até uma profundidade de aproximadamente 60m.

Deck flutuante no interior da caverna
Ali mesmo ao lado, na extremidade da caverna, fito a carcaça de um animal que ali pereceu. Não raras vezes, alguns animais infortunados ali caem, encontrando assim o seu triste fim. 
Que cenário! Impossível não pensar em Júlio Verne e na sua “Viagem ao Centro da Terra”, obra literária que vive no imaginário de muitos de nós.

As formações rochosas que emergem do fundo do lago
Vou ao encontro das gélidas águas do Abismo (18º C, média). Nas águas do lago, tenho o desejo secreto que os ponteiros do relógio parem por breves instantes. Observo tudo o que a minha vista alcança até ao mais ínfimo pormenor. Espero que a memória visual jamais me traia e que eu nunca esqueça este momento sublime de pura contemplação. Os cones no fundo do lago reluzem a cada foco de luz que recebem das lanternas. É um jogo de luz e sombras único. Não há fotografia que faça jus à beleza que se revela ante mim. E os trinta minutos de mergulho esfumaçam-se num ápice. 
Diz o adágio que “o que é bom acaba depressa”, ainda que não tenhamos pressa. É hora de regressar. Mais uma vez em Rappel. Desta feita, o regresso à superfície é feito em cerca de 25 minutos. Neste percurso, tomo consciência que a enorme galeria do Abismo Anhumas tem agora um significado diferente. Como a subida é bem mais morosa, é possível saborear todos os detalhes esculpidos nas paredes da caverna pela natureza. É entre estalactites e estalagmites que se faz esta viagem, onde facilmente o nosso cérebro vislumbra formas e figuras abstratas a fazer lembrar o rosto de um idoso ou a figura de algum animal.
Já na superfície, tenho a sensação de ter estado num mundo paralelo e atípico para o comum dos mortais, como se de uma distorção da realidade se tratasse ou do acordar de um sonho. O meu único lamento nesta inesquecível aventura é apenas fotográfico...ser proíbido o uso do tripé.

Aspeto da subida à superficie, vista do exterior
E lembrar-me que tudo começa numa pequena fenda (…) 
Não poderia concluir a partilha desta aventura sem deixar aqui inscrito o meu agradecimento à extraordinária equipa de profissionais que nos acompanhou e que já são parte integrante do Abismo Anhumas. O seu elevado nível de profissionalismo e simpatia são fundamentais para transmitir confiança e serenidade, nomeadamente nas horas de maior ansiedade, a quem ousa descer ao Abismo.
Já no autocarro de volta para o hotel, tenho o estranho sentimento que tudo voltou ao normal. Coloquei os headphones e segui ouvindo o “Extinct” dos Moonspell.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Parque Ibirapuera

Se há coisa que os habitantes de São Paulo gostam de fazer é aproveitar os fins de semana solarengos para fazer alguma atividade ao ar livre.  
A hodierna metrópole Paulista dispõe de um vasto leque de oferta de parques urbanos espalhados pela cidade, proporcionando aos habitantes, que os aproveitam, momentos de lazer ao ar livre. Estas atividades são do tipo BBB: Boas, Bonitas e Baratas. De todos os parques existentes, talvez o mais acarinhado e procurado pela população seja aquele que hoje dá título ao meu post, o Parque Ibirapuera, eleito em 2013 pelos utilizadores do TripAdvisor como o melhor parque urbano da América do Sul. Seja em família, com os amigos ou sozinho, o que não falta são opções para algumas horas de descontração, até mesmo para o cidadão mais exigente.


A variedade de atividades ao ar livre é muita, desde andar de bicicleta, de patins em linha, de skate, correr ou caminhar. Para tal, e para que as expectativas não sejam defraudadas, existem várias pistas no parque. Pode também optar por se deitar na relva a observar a fauna e a flora local, ler um livro, namorar ou saborear um magnífico piquenique. Há ainda os que procuram o parque para paquerar (namoriscar), pois dizem que é melhor do que ir na balada (discoteca). Será?


Para os amantes de eventos culturais, não há desculpa para não visitar o Ibirapuera. Prefere uma ida ao museu? O Ibirapuera não tem um, mas sim dois museus no seu interior: o de Arte Moderna e o Afro-Brasil. Por curiosidade, o Ibirapuera também tem espaço para a Bienal de São Paulo. O anfiteatro do parque tem sempre um cartaz de atividades preenchido e diversificado, que contempla desde concertos de música, até exposições, sejam de fotografia ou pintura. Se ainda assim lhe parece pouco, encontre o pavilhão de desporto, cuja arquitetura devolve à memória o Pavilhão Atlântico, sem esquecer um lindo obelisco junto a um dos lagos, que confere uma áurea especial ao lugar.
Tanta oferta dentro de um parque urbano! Acredito que agora já está convencido da importância deste parque na cidade, certo? 


Enquanto frequentador do Parque Ibirapuera, gosto de vaguear entre os lagos e os bosques do parque nas primeiras horas do dia, ou em fim de dia, sempre acompanhado da máquina fotográfica para captar a beleza desta paisagem urbana.


A vida animal que aqui é possível encontrar, não me deixa indiferente, seja nos parques urbanos ou nas margens dos Rios Tietê ou Pinheiros, que cruzam a cidade. Capivaras, corvo-marinho, urubus, garças entre outros pássaros e mamíferos, mostram a capacidade de adaptação e de evolução da vida animal, mesmo que num ambiente adverso. Amante incondicional da fotografia de paisagem natural - que saudade dos dias em que poucos conheciam a Praia da Ursa ou o Vale do Rossim - a verdade é que tenho gostado desta simbiose que existe em São Paulo, onde os espaços verdes, ainda que construídos pela mão do homem, se misturam com esta autêntica selva urbana, proporcionando algumas imagens de belo efeito e rara beleza. 
Afinal há vida para além da fotografia de paisagem natural!

Vamos ao Ibirapuera?

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Parque Nacional Chapada dos Veadeiros

Moro num país tropical, abençoado por Deus, E bonito por natureza, mas que beleza…”. Este trecho da famosa música “País Tropical” do carioca Jorge Ben Jor, serve de mote para o texto que hoje partilho sobre o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado no estado de Goiás. 
Abençoado por Deus, como a letra assim o indica, o Brasil pela sua dimensão tem uma variedade paisagística como poucos países no planeta. Aventurei-me pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em busca dessa tal beleza natural. Ao fim de alguns dias a desvendar os seus trilhos mais recônditos, tenho de admitir que se Deus existe como muitos defendem, então abençou este Parque Nacional.

Salto do Rio Preto
Na verdade, a Chapada dos Veadeiros é dos locais mais procurados por todo o Brasil pelos amantes da natureza e na chamada “época alta” pode ser muito difícil encontrar alojamento ou um guia, aqui fundamental para visitar as muitas belezas que este parque tem para oferecer.

Planta do Parque, conhecida como "Sempre-Viva"
Com vários percursos pedestres como opção, caminhar por este parque é como andar por um museu vivo, onde a mistura de plantas e paisagens únicas, moldadas com carinho pela mão leve e suave da mãe natureza durante muitos e muitos anos é um autêntico festim e regalo para o olho humano. Muitos destes percursos são feitos por verdejantes encostas que quase sempre terminam em abruptas falésias que se percipitam sobre rios e riachos de água cristalina e límpida.

Vale da Lua
As grandes atrações deste parque tem um actor principal: O Rio Negro! Ele é dono e senhor por estas paragens, proporcionando vistas únicas sobre as suas magnificas cascatas, algumas com vários metros de altitude. As pequenas lagoas que ao longo deste rio se formam, permite, a quem o quiser fazer, um revigorante banho a meio das desgastantes caminhadas. 
Outras das grandes atrações por aqui é o Vale da Lua. Neste Vale, o criador desta surreal atração é o Rio São Miguel. No seu curso natural e enquanto serpenteia pelos vales e montanhas do parque, as suas águas cristalinas vão esculpindo as rochas, dando ao local um aspecto lunático. Para quem conhece, uma paisagem muito semelhante pode ser encontrada no Pulo do Lobo, em Mértola.  

"Tamanduá Mirim", em habitat natural
Alto Paraíso é uma das portas de entrada para este Parque Natural e quiça pela influência da presença de minas de cristais na região, que faz a chapada ser vista como um centro de concentração de energia, sente-se no ar um certo misticismo. Os habitantes, sobretudo os mais jovens, optam muitos deles por um estilo de vida que em muito se assemelha ao género hippie que tanto furor fez nas décadas de 60 e 70, onde a paz, o amor e o respeito pela natureza imperam. Quem percorre e deambula pelas ruas da cidade, facilmente encontra diversas lojas de artigos esotéricos, centros de meditação e vai ouvindo muitas histórias sobre óvnis e E.T.´s. Durante a minha estadia confesso que não vi nem ovni´s nem E.T.´s. Creio que encontrei um bom pretexto para obrigatoriamente ter de voltar a este parque nacional com muitas e muitas atrações de cortar a respiração e quem sabe falar com um alien ou ver um ovni a cruzar os céus do parque.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O mítico Maracanã em tarde de Flamengo vs Vasco

Ao caminhar nas imediações do estádio, a tensão sente-se no ar. 
Com muitos cânticos e palavras de incentivo, paira um nervoso miudinho no ar, afinal é dia de derby, e ainda para mais, decisivo. Sentindo-me meio perdido naquele mar de gente, e dirigindo-me para a porta de acesso ao estádio, quando menos espero, eis que em conjunto com o grupo de amigos que me acompanhava, sou abordado para uma rápida entrevista para a TV Globo. E quando me perguntaram o prognóstico para o jogo, ainda me lembrei daquela frase mítica no futebol tuga: “prognósticos só no fim do jogo”.
No interior do Estádio Maracanã
Apesar de ainda não ter referido, estava a minutos de assistir a um dos derbies mais emblemáticos do futebol mundial: Flamengo vs Vasco da Gama. Mais uma meia-final do campeonato Carioca. Ao saber que eu era português, o entrevistador pergunta: “E ai Nuno, vai torcer por quem?”; “Flamengo, que vai vencer por 3-0”, exclamei eu para incredulidade do entrevistador, pois o Vasco da Gama no Rio tem uma base de apoio muito grande da comunidade portuguesa. Terei eu sido excomungado pela comunidade tuga do Rio?!
Clube só tenho um, Benfica e mais nenhum! Mas aqui no Brasil, simpatizo com o Flamengo e o Corinthians. O engraçado é que o entrevistador não entendeu praticamente nada do que eu disse durante a entrevista e teve de pedir “tradução” aos meus amigos. Hilariante, este episódio!
A obrigatória selfie dentro do mítico Maracanã
Passado este momento verdadeiramente caricato, era hora de entrar no estádio Mário Filho. Por este nome é pouco conhecido fora do Brasil. Mas se disser Maracanã, todo o mundo conhece. Juntamente com o mítico Wembley, talvez sejam estes os estádios mais emblemáticos do futebol, sem esquecer a catedral da Luz.
Visitar o Maracanã, só por si, já era algo com que sonhava há muito, mas entrar naquele estádio para assistir a um dos maiores clássicos do futebol brasileiro, e quiça mundial, um explosivo Flamengo vs Vasco da Gama, era algo inimaginável para mim até há pouco tempo atrás.
Bilhete do jogo
Que sensação ao entrar no estádio! Um ambiente festivo e com ambas as “torcidas” a puxarem pelas suas equipas como se fosse a última vez que o iriam fazer, proporcionando um ambiente digno de uma verdadeira final. Mas era “apenas” a meia-final. As claques, ainda que separadas, ocupavam religiosamente cada uma metade do estádio. Um autêntico inferno, o ambiente. E eu, do lado dos “torcedores” do Fla.

Enquanto ia assistindo ao jogo, aproveitei para tirar inúmeras fotos e fazer pequenos vídeos, para mais tarde recordar este dia, já por si inesquecível. E assim chegava ao fim mais uma aventura por terras de Vera Cruz. Para a posteridade fica o resultado: 1-0 para o Vasco e acesso à final do “Cariocão”.

sexta-feira, 13 de março de 2015

MC, Puto D, Jaguncinas e...Zeca Pagodinho

“Quem tem telhado de vidro, não atira pedras no do vizinho”

Ainda eu estava longe de imaginar que, por motivos profissionais, o Brasil iria um dia cruzar o meu caminho, nesta estrada longa que é a vida, e muito eu gozava com o meu amigo MC por ouvir um tal de «Zeca Pagodinho». Como a culpa nunca morre solteira, eu tinha um cúmplice neste «crime», o grande puto D, mais conhecido na margem sul como General D. Já  que toco neste assunto sensível para esse meu amigo, o tal de MC, no seu cardápio de música brasileira também se incluíam outras grandes bandas brasileiras como «Chitãozinho e Xororó» e um tal de «MC Bola».

Antes de prosseguir, um breve parêntesis para esclarecer que em Portugal «gozar» é «sacanear» e «puto» é equivalente a «garoto» no Brasil. Esta simples explicação tinha de ser feita para não gerar mal entendidos.

Da música brasileira e, tirando os, para mim deuses do thrash metal, «Sepultura», o meu conhecimento era quase nulo. Umas quantas idas «na balada» (sinónimo de discoteca no Brasil) e a alguns bares, rapidamente fizeram expandir o meu conhecimento de música brasileira. Músicas de nomes como «Tim Maia», «Jorge Ben Jor» ou «Raúl Seixas», passaram a ser comuns para mim e, até já sei o que significa a sigla «M.P.B.»! Vou ser amigo e descodificar para quem não conhece: «Música Popular Brasileira». 

Ao contrário do que acontece no país que um dia viu nascer Luís Vaz de Camões, em que a música produzida por lá não é levada muito a sério, sendo preterida essencialmente em favor da música anglo-saxónica, aqui a música local é bastante valorizada e ouvida, sendo motivo de orgulho nacional.
Com a galera do Perfil do Samba e com as jaguncinas Miri e Alê
Um dos locais que frequento é um bar de nome «Zé Menino» que fica localizado no popular bairro da Vila Madalena, São Paulo. Num outro artigo falarei sobre este boémio bairro paulista. Aos domingos é comum, os agora meus amigos, «Perfil do Samba» tocarem nesse bar. Esta banda é constituída por 5 amigos que anima as tardes no bar que atrás referi e que tem na interpretação de temas de pagode o seu ponto forte. «Pagode» é um género musical que é classificado como um estilo de samba. Tenho de confessar que não consigo distinguir a diferença entre o pagode e o samba, para mim a sonoridade parece a mesma.

Com o passar do tempo, e á medida que ia ganhando confiança com a «galera» do «Perfil do Samba», pedir para tocarem a música «Amiga da minha mulher», do aqui famoso «Seu Jorge», era algo habitual. A partir de determinada altura, o Haroldo, vocalista da banda, olhava para mim e dizia: “Nuno, esta é para você!” e é ao ritmo dessa música que as jaguncinas Miri e Alê abanam o esqueleto.


Num já longínquo domingo e com as saudades da família e amigos a apertar, pedi para que tocassem uma música de nome «Maneiras» de um tal de… «Zeca Pagodinho»! Por tantas vezes a ouvir, sabia que era a música preferida do meu amigo e enquanto a música era tocada, gravei um vídeo e enviei para Portugal, para o MC. Nem 5 segundos tinham passado e já tinha recebido umas 10 mensagens via WhatsApp a ridicularizar o facto de afinal eu também gostar de uma música que vezes sem conta usei como arma de arremesso contra o meu amigo :)
…e não é que gosto mesmo dessa música?! Caso para dizer: “pela boca morre o peixe!”

segunda-feira, 9 de março de 2015

Búzios e Arraial do Cabo

«Tic-tac, tic-tac», o relógio não pára e ao seu ritmo bucólico vai avançando segundo a segundo e indiferente a toda e qualquer reacção. Afinal é ele que controla o nosso tempo. Os seus ponteiros aproximam-se vertiginosamente da hora marcada. A ansiedade a cada segundo que vai passando apodera-se de mim e já não tenho como a disfarçar. É meia-noite, hora de partir!
Faltavam poucas horas para conhecer Búzios, uma estância balnear localizada no estado do Rio de Janeiro e que um dia ficou mundialmente famosa, quando a então diva da época, Brigitte Bardot, ali decidiu passar umas férias. No local, onde ela costumava contemplar o ocaso do astro rei, foi edificada uma estátua em sua homenagem.

Búzios
Cinco horas após ter deixado São Paulo, e já com o sol a espreitar na linha do horizonte, entro na cidade maravilhosa e, quando me preparo para passar na ponte de Niterói, avisto ao longe o símbolo desta cidade, o Cristo Redentor, envolto em neblina que conferia um ar místico digno de um cenário de conto de fadas a este símbolo da cidade.
A vista sobre a cidade do Rio de Janeiro ao atravessar esta ponte é deslumbrante e de cortar a respiração. Toda a orla marítima da cidade maravilhosa fica diante dos nossos olhos, um festim visual. A vontade de largar o carro em qualquer lado, congelar aquele  instante, e poder ignorar tudo o que nos rodeia por breves minutos apenas, suster a respiração e contemplar esta obra-prima com que a mãe natureza nos privilegiou.
Com o Rio de Janeiro cada vez mais longe era hora de finalmente chegar a Búzios, que em nada defraudou as minhas expectativas, ainda que me tenha feito lembrar o Algarve em época alta, tal a quantidade de pessoas que aproveitam as férias para ali se irem banhar. A quantidade de argentinos nesta estância balnear também captou a minha atenção, fazendo-me pensar que talvez estivessem ali mais argentinos do que brasileiros, tal a fama que este local tem no país do Tango.
Búzios e Arraial do Cabo
Para minha grande desilusão a água nas praias de Búzios não é tão quente como eu imaginava e por momentos pensei que tava a banhos em Portugal, tal era temperatura da água. Para o último dia estava reservado um passeio de barco ao local que mais me deslumbrou. A cerca de 1h30 de Búzios, fica localizada outra estância balnear igualmente famosa no estado do Rio: Arraial do Cabo!
Como o nome indica, Arraial do Cabo é um pedaço de terra que entra mar a dentro e que apesar de possuir praias pequenas e localizadas na sua maioria, em pequenas enseadas, a verdade é que aqui se encontram algumas das praias mais bonitas do mundo.
Arraial do Cabo
Um passeio de barco de cerca de 3h30m foi a forma que encontrei de me deliciar e banhar em algumas dessas praias. E aqui sim, deparei-me com um cenário de praias de areia branca e água quente. Sem querer colocar em causa a beleza de Búzios, até porque como tudo na vida o que conta é o momento em que as coisas são vividas, Arraial do Cabo foi o local que mais me fascinou pela sua beleza natural.
E uma semana depois, era tempo de voltar a São Paulo (…)